Esta coluna tem o dever de contar tudo aquilo que passa com um estudante no cotidiano.
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Episódio de hoje:
A PORTA DO MEIO
(História Original: Emmanuel Guimarães // Adaptação: Diego Oliver)
A PORTA DO MEIO
(História Original: Emmanuel Guimarães // Adaptação: Diego Oliver)
Eram
duas da tarde e o meu querido Barro/Macaxeira estava um tanto quanto diferente.
No lugar daquele ônibus “sanfona”, o Grande Recife decidiu colocar um daqueles
ônibus comuns pra fazer o itinerário. Consegui me sentar tranquilamente até que
um daqueles tipos valentes subiu no ônibus. Falava alto. Esparramava seus
braços nas janelas do carro, querendo mostrar que nos seus braços havia força o
suficiente pra espancar até a morte qualquer um que ousasse lhe perguntar as
horas. Era tão blasé quanto
alguém que acorda de manhã após ter tomado dois comprimidos de Rivotril 500mg
pra dormir, mas apesar dessa comparação naquele momento, nem sequer pensei se
ele estava drogado ou não. Enfim o garoto valente que aparentava ter uns
dezesseis anos, queria descer do veículo, mas não queria descer de um jeito
qualquer. Ele exigia sair pela porta do meio, aquela que quando o ônibus está
muito lotado nós perguntamos ao cobrador se ela abre, a fim de não ter que se
espremer nos outros passageiros até chegar a porta traseira. O fato é que a
porta do meio de um ônibus não foi colocada ali com a finalidade de facilitar o
tráfego de passageiros e, sim, de deficientes físicos. A porta do meio era
especial. Tinha um elevador por onde o garoto, cheio de empáfia, queria ser
rebaixado até a altura da calçada. Seu pedido foi negado e o garoto acabou
passando do ponto de ônibus mais próximo de sua casa. Eu pude ver por um dos
espelhos do Barro, todo o ódio que ele tinha nos olhos e isso me deu calafrios.
O veículo seguia em frente e ao chegar ao ponto seguinte, o garoto ainda
continuava exigindo que a porta do meio fosse aberta para que ele passasse.
Seu
pedido foi atendido.
Desceu orgulhoso, como alguém que nunca teve uma ordem
contrariada. Um último pedido inconsciente de alguém que morreria dois passos
depois, quando um carro o acertou em cheio.
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