sábado, 10 de setembro de 2011

Do outro lado da rua



Todos os dias lá estava ela. Sempre do outro lado da rua, aquela mulher tinha alguma coisa de estranho. Sempre sentada em sua cadeira de balanço, fazendo tricô, ela apenas observava o movimento. Nunca conversava com ninguém. Morava só e era famosa por ir a enterros mesmo sem conhecer o defunto.
No mesmo horário eu passava pela frente da sua casa e ela sempre me observava até que saísse do seu campo de visão. Isso sem qualquer constrangimento. Encarava-me e não dizia uma palavra, não movia uma sobrancelha, não piscava um olho.
Numa sexta-feira eu estava com um colega e decidi parar para falar com a tal mulher. Como de costume, passei na calçada oposta à casa dela e num dado momento parei, puxei meu colega para o outro lado e lá ficamos os três a nos encarar.
Durante quase um minuto, que mais pareceram horas, ficamos nos fitando sem ação alguma. Até o vento pareceu parar naquele momento. De repente a mulher mostrou uma expressão de nojo no rosto, virou os olhos e deu uma tremenda gargalhada. Depois voltou a ficar séria, apontou o dedo para nós e disse: “Somente em três dias, meus filhinhos!”. E calou-se novamente, voltando a fazer tricô como se não houvesse mais ninguém ali. Fomos embora sem entender nada.
Três dias depois, a mulher do outro lado da rua morreu e apenas eu e meu amigo fomos ao seu enterro. Na saída, ao cruzarmos o portão do cemitério, tudo ficou distante. Tudo ficou claro. Tudo sumiu.
Quando me dei conta, estava sentado numa cadeira de balanço ao lado do meu colega. Eu escutava rádio e ele fazia palavras cruzadas. Ambos não dizíamos nada. Apenas observávamos quem passava do outro lado da rua.

Por Oliver

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