Todos os dias
lá estava ela. Sempre do outro lado da rua, aquela mulher tinha alguma coisa de
estranho. Sempre sentada em sua cadeira de balanço, fazendo tricô, ela apenas
observava o movimento. Nunca conversava com ninguém. Morava só e era famosa por
ir a enterros mesmo sem conhecer o defunto.
No mesmo
horário eu passava pela frente da sua casa e ela sempre me observava até que
saísse do seu campo de visão. Isso sem qualquer constrangimento. Encarava-me e
não dizia uma palavra, não movia uma sobrancelha, não piscava um olho.
Numa
sexta-feira eu estava com um colega e decidi parar para falar com a tal mulher.
Como de costume, passei na calçada oposta à casa dela e num dado momento parei,
puxei meu colega para o outro lado e lá ficamos os três a nos encarar.
Durante quase
um minuto, que mais pareceram horas, ficamos nos fitando sem ação alguma. Até o
vento pareceu parar naquele momento. De repente a mulher mostrou uma expressão
de nojo no rosto, virou os olhos e deu uma tremenda gargalhada. Depois voltou a
ficar séria, apontou o dedo para nós e disse: “Somente em três dias, meus
filhinhos!”. E calou-se novamente, voltando a fazer tricô como se não houvesse
mais ninguém ali. Fomos embora sem entender nada.
Três dias
depois, a mulher do outro lado da rua morreu e apenas eu e meu amigo fomos ao
seu enterro. Na saída, ao cruzarmos o portão do cemitério, tudo ficou distante.
Tudo ficou claro. Tudo sumiu.
Quando me dei
conta, estava sentado numa cadeira de balanço ao lado do meu colega. Eu
escutava rádio e ele fazia palavras cruzadas. Ambos não dizíamos nada. Apenas
observávamos quem passava do outro lado da rua.
Por Oliver
Nenhum comentário:
Postar um comentário