Esta coluna tem o dever de contar tudo aquilo que passa com um estudante no cotidiano. Caso você tenha alguma história que envolva esse bendito ônibus ou alguma aventura que você passou e queira compartilhar, vá na aba contato acima e colabore!
Episódio de hoje:
Por Oliver
AQUILO QUE ME AGUARDAVA
Desde manhã a chuva não havia
cessado. Ruas alagadas, semáforos desligados, longas filas de carros e eu
estudando. Depois de um cansativo dia larguei as 18h já pensando em chegar em
casa, tomar um bom banho e, diante daquele frio, cair direto na minha cama bem
quente. Mas eu não imaginava aquilo que me aguardava.
Fui rumo à parada de
ônibus e já me deparei com meu primeiro obstáculo: atravessar a avenida para
chegar à parada do outro lado. Primeiro porque, naquele horário, o fluxo de
veículos estava intenso e não havia faixas para pedestre; segundo porque a
avenida estava alagada e a água chegava na metade da canela. Senti meu drama
piorar ao ver meu Barro/Macaxeira indo embora. Consegui atravessar e
chegar à parada lotada. Após quase quarenta minutos de espera, chegou meu
querido ônibus já lotado e com muita gente para subir. Em meio aos apertos
daquilo, uma coisa me fazia feliz: fazia uma semana que eu havia comprado um
celular novo e estava louco para me aquietar no ônibus e poder mexer um pouco
nele. Mas eu não imaginava aquilo que me aguardava.
O ônibus estava tão lotado que
eu tinha que me jogar por cima de quem estava sentado para as pessoas poderem
passar por mim. O resultado de tanto aperto só percebi no outro dia: a tela touchscreen havia rachado e o celular
acabara de se tornar inútil. Logo mais desci e fiquei à espera do meu segundo
ônibus: Barro/Prazeres. E fiquei à espera. E fiquei à espera... não passava ônibus algum. As
chuvas haviam deixado os coletivos presos em algum lugar no fim do mundo. Eram 21h quando
a verdadeira aventura começou.
Encontrei minha irmã nessa mesma
parada e, junto com mais duas pessoas, decidimos fazer o resto do percurso à
pé. A chuva não dava trégua e eu, prevenido, estava com meu guarda-chuva
gigantesco (que eu chamava de Assunção). Eram dois quilômetros até nossas
casas. Nós corríamos freneticamente para não levarmos banhos dos carros que
passavam e aí chegamos a um ponto com abrigo, quinze minutos depois, parando
para descansar um pouco. Foi quando deu uma ventania enorme que conseguiu
quebrar as hastes do meu enorme Assunção e levá-lo embora, me deixando apenas
com o cabo nas mãos.
No ponto em que estávamos havia
uma senhora, com seus 60 anos, que estava aperreada porque não sabia como
chegar em casa. Coincidentemente ela morava perto de nós e resolveu nos
acompanhar pelo resto do caminho. Voltamos a andar. A rua na qual estávamos normalmente
era movimentada, cheia de vida. Naquela hora estava um “breu”. Não havia nada
nem ninguém, apenas nós. A rua estava com água até o joelho e demos as mãos
para não corrermos o risco de cair em algum buraco. Foi quando um homem de bicicleta
veio na direção contrária, nos dizendo: “Cuidado, porque mais na frente não tá
passando, não! A água está na cintura!”. Eu até havia pensado: “A pessoa só se
prejudica!”, mas isso é outra história.
O único jeito era pegar um caminho paralelo à rua em que estávamos: o mangue. Eu já estava encharcado
mesmo! Atravessamos o mangue com sapos pulando em nossas pernas e a lama nos
fazendo quase escorregar, enquanto a senhora que nos acompanhava, dizia: “Ai
meu Deus, nos ajuda! Eu tenho que chegar em casa pra tomar meu remédio
controlado!”. Felizmente em poucos minutos chegávamos à pista novamente. Foi aí
que nosso sorriso desapareceu.
Só havia um caminho para chegar
às nossas casas e ele estava completamente alagado. A água estava na cintura e
vários carros e pessoas estavam ao redor apenas contemplando aquela intempérie.
Não havia jeito, ou atravessávamos ou dormíamos ali mesmo, pois já eram 23h.
Demos as mãos novamente e fomos juntos e vagarosamente, atravessando aquele
mar. As pessoas agora nos focavam, prestando atenção em nossa travessia.
Decidimos ir pelo meio da pista, pois supomos que não haveria buracos por ali.
Foi quando nos assustamos com o grito da senhora que estava conosco: “AHH!!
SOCORRO!! MINHA SANDÁLIA SAIU DO MEU PÉ!!!”. Minha irmã, que estava na ponta,
viu a sandália da senhora boiando e fez um esforço para alcançá-la, porém
conseguiu.
Em segundos, que pareceram horas,
finalmente sentimos a água diminuir em nossos corpos até percebermos que
havíamos passado pelo mar. Foram muitos gritos de vitória tanto por nós, quanto
por quem nos olhava. À 00h cheguei em casa completamente exausto e molhado sem
acreditar que havia passado por tudo aquilo. Hoje dou risadas de tudo e até me
orgulho de ter vencido tudo aquilo que me aguardava.
4 comentários:
Muito bom grandee ! =D
vlw grandinha!
Puuuuuuuuuuuuuuuuuuts que pariu! O pior seria chegar em casa em não ter água para um bom banho, mas pelo final feliz da história não foi isso que ocorreu. Saudações guerreiro!
Saudações! Pelo menos o bom banho saiu com perfeição! hehehe
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